A evolução e as aplicações da IA já atingiram todos os setores da economia. Entenda onde ela está presente e do que é capaz, segundo especialistas
Talvez você nem perceba, mas a IA já se tornou parte da sua (nossa) vida há muito tempo. Algo que começou com um desejo de construir máquinas capazes de reproduzir a capacidade do ser humano de pensar, ver e agir nos entrega hoje possibilidades realmente impressionantes.
Desde tarefas aparentemente simples, como a separação de mensagens de spam em nosso e-mail, até a febre das assistentes virtuais, como Siri e Alexa, ou dos aplicativos de deslocamento. Temos também as facilidades (ou não, risos) para atendimento ao cliente: os famosos chatbots; e as recomendações de redes sociais e serviços de streaming sobre o que “podemos gostar” de ler ou assistir, são mais alguns exemplos básicos de aplicação que fazem parte do dia a dia de muitos de nós sem nem nos darmos conta.
O fato é que a Inteligência Artificial é hoje uma ferramenta poderosa, capaz de otimizar e agilizar processos, bem como resolver problemas. Já é usada largamente em diversos segmentos, permitindo acelerar o desenvolvimento de produtos, inovar e melhorar a eficiência de inúmeras atividades.
A Inteligência Artificial e o universo corporativo
Embora ainda cause desconfiança e até um certo receio de muitas pessoas em relação à possibilidade de ocupar o lugar do ser humano em “vagas de emprego”, a IA estar presente em cada vez mais processos de empresas e indústrias dos mais variados setores.
Um estudo do Fórum Econômico Mundial estima que cerca de 75 milhões de empregos foram eliminados entre 2018 e 2022 em consequência do uso da IA. Em contrapartida, o mesmo estudo aponta que aproximadamente 97 milhões de novos empregos serão criados até 2025, também em decorrência das aplicações da Inteligência Artificial no mundo dos negócios.
Veja alguns exemplos da presença da IA em diferentes segmentos:
– Recrutamento e seleção: A IA tem auxiliado grandes empresas com a seleção/busca inicial de currículos relevantes para determinadas vagas.
– Indústria: Automatização de processos produtivos, como embalagem, etiquetagem e conferência de produtos já são feitos com IA. Mas existem infinitas outras possibilidades de aplicação, como no controle de qualidade e processos de melhoria contínua, identificando falhas operacionais, agilizando a identificação de problemas e, consequentemente, reduzindo custos com perdas.
– Medicina: Softwares já são capazes de detectar a possibilidade de doenças ou aumentar a precisão de diagnósticos. Também conseguem analisar quantidades enormes de prontuários em busca de similaridades.
– Agricultura: O monitoramento do clima, de pragas e da evolução de plantações já é feito por drones com IA aplicada às imagens. Tecnologias como esta possibilitam o aumento da produtividade e da qualidade das safras. Também monitoram ameaças em grandes áreas, muitas vezes, fora do alcance do olhar dos produtores rurais.
– Varejo: Em supermercados, atacados e lojas dos mais diversos segmentos, a IA auxilia não somente na segurança física, alertando sobre comportamentos suspeitos e evitando furtos, mas também nos setores de marketing e vendas. Por meio de câmeras com IA aplicada às imagens, é possível visualizar mapas de calor, identificando locais onde há maior fluxo de pessoas. A contagem de pessoas pode mostrar a necessidade de trocar determinado produto de lugar, seja devido a aglomerações naquele setor ou para proporcionar mais visibilidade, posicionando melhor os produtos e aumentando as vendas.
– Segurança eletrônica: Sistemas de monitoramento com visão computacional permitem um passo além da capacidade do ser humano no quesito vigilância. Isso porque câmeras com Inteligência Artificial aplicada às imagens conseguem ser mais potentes e precisas do que nossos olhos podem ser. Além de monitorarem milhares de imagens ao mesmo tempo, identificam anomalias de maneira autônoma e geram alertas em caso de não conformidades a qualquer momento e em tempo real. Os recursos da IA também têm sido adotados na proteção a ataques cibernéticos, identificando tentativas de invasões e protegendo os dados dos usuários.
A Inteligência Artificial pode dominar o ser humano?
As novas IAs são 1000 vezes mais inteligentes do que os seres humanos. Estamos falando do ChatGPT e “seus semelhantes”, que estão fazendo a alegria de alguns e despertando preocupação em outros.
Geoffrey Hinton, cientista da computação e psicólogo cognitivo que trabalhou no Google pelos últimos 10 anos, fez a afirmação do parágrafo anterior e completou dizendo que existe, sim, risco da IA assumir o controle da sociedade. Se continuarmos nesse ritmo de desenvolvimento de modelos de Inteligência Artificial, de acordo com Geoffrey, nos próximos anos ela irá superar a inteligência coletiva.
Esse receio não é apenas do cientista. Recentemente, especialistas e grandes nomes do meio tecnológico, como Elon Musk e Steve Wozniak, cofundador da Apple, além de estudiosos, como o historiador Yuval Noah Harari, assinaram uma carta pública, pedindo que o desenvolvimento da IA nos moldes atuais seja interrompido, devido aos riscos ao ecossistema da informação e à segurança no ambiente digital.
Marco legal da Inteligência Artificial no Brasil
Enquanto a carta não gera resultados, o governo brasileiro está trabalhando para regulamentar o uso da tecnologia. O projeto de Lei 2338/2023, apresentado nas comissões temáticas do Senado, na primeira semana de maio deste ano, intenciona normatizar o desenvolvimento, as aplicações e o uso responsável dos sistemas de Inteligência Artificial no Brasil. O projeto prevê avaliação de riscos, responsabilização dos envolvidos (sejam eles usuários ou desenvolvedores da tecnologia) e direitos de pessoas que possam ser afetadas pela Inteligência Artificial.
Mas por que só agora essa discussão toda, se a IA já é usada há anos para as mais diversas finalidades pessoais e corporativas? O fato é que, nos últimos anos, e especialmente após o advento do ChatGPT, a Inteligência Artificial tem sido utilizada em áreas mais delicadas e com possíveis consequências mais abrangentes.
O uso no meio educacional é um exemplo, especialmente em relação ao plágio e às citações de fonte, uma vez que colocaria em dúvida questões como autoria e produção de conhecimento por parte dos estudantes, já que poderiam usar a ferramenta para “pensar” por eles. Análises para concessão de benefícios aos cidadãos são outro exemplo. Neste caso, o Tribunal de Contas da União já investiga se a IA age de maneira tendenciosa para negar pedidos. Há, ainda, a possibilidade de propagação ilimitada de discursos de ódio – mentirosos ou com teor preconceituoso – que poderiam ser considerados verdadeiros por IAs, como o ChatGPT, devido a falhas na programação do algoritmo.
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